Algum escritor disse que “escrever é cortar palavras”. Não vou arriscar dizer de quem é a frase, pois não a li originalmente e não me atrevo a chutar quem seria seu autor, por mais que o Google me dê dezenas de sugestões. Essa foi uma das primeiras frases que ouvi de um editor assim que pisei em uma redação de jornal, em 2003. Ele dizia que para escrever bem era necessário exercer o desapego – não ter pena de apagar, refazer, passar a tesoura.
Minha primeira reação foi de estranheza. Afinal, era um jornal que fazia reportagens imensas, e eu gostava de lê-las. Foi no exercício diário de repórter que pude entender o que aquilo significava. Cortar palavras não é fazer textos curtos ou superficiais. Pelo contrário. Trata-se de dar acabamento à obra. Ler quantas vezes for necessário e retirar dela todos os apêndices: deletar os elogios e críticas, as partes que não acrescentam nada à informação, o nariz de cera.
Cortar palavras é deixar as frases mais curtas, na ordem direta, economizar na quantidade de explicações e focar na eficiência. Se o parágrafo está grande demais, a gente divide. Se os exemplos são muitos, a gente tira alguns (três é sempre um bom número, porque é o número do desempate). Se a frase está difícil de ser entendida na primeira leitura, a gente apaga e tenta de novo.
O texto deve ser fácil de ser lido, rápido de ser entendido. Palavras muito técnicas serão compreendidas apenas pelos técnicos, por isso, é melhor deixar que eles as utilizem. Histórias complicadas precisam ser contadas de forma tão simples que qualquer pessoa consiga decifrá-las. Expressões difíceis aqui e acolá educam o leitor, mas se elas estiverem em todo o texto, podem espantá-lo.
Somos jornalistas. Nossa função é contar histórias de maneira leve, bonita e compreensível. Somos bons em perguntar até não restar mais nenhuma dúvida, em tirar de um episódio o mais importante e em captar aquele detalhe que passaria despercebido pelas pessoas se não fosse nosso ofício. Precisamos escrever textos que façam justiça a esses talentos especiais.
Não é fácil e nem rápido. Sempre desconfiei de quem fala que escreve um texto como quem faz biscoitos. Escrever bem exige dedicação, um tempo para pensar e muito amor pelo que se faz. E, como um mantra, deve fazer parte do nosso ofício diário. Isso funciona para a vida. E, com certeza, funciona para o texto.